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O FIM DE BOLSONARO 4: Crise com Maia. E Moro, o agente da instabilidade

Reinaldo Azevedo

23/03/2019 08h53

A prisão do presidente Michel Temer, até em razão de sua flagrante ilegalidade, poderia ter conferido ao governo Bolsonaro um selo de maturidade. Viu-se precisamente o contrário. O presidente, em viagem ao Chile, aproveitou para atacar esforços feitos por antecessores em favor da governabilidade; um de seus filhos comemorou no Twitter; a líder do governo no Congresso também saiu batendo bumbo nas redes sociais. Por óbvio, ninguém se ocupou de examinar a acusação, o despacho etc. Tratava-se de celebrar a derrota da "velha política", entendida como sinônimo, então, de corrupção. Ampliava-se, assim, o leque de adversários do governo. Pior: sobrou a suspeita de que áreas do governo atuam em parceria com a Lava Jato para dar sequência ao trabalho de intimidação dos políticos.

Praticamente ao mesmo tempo, entrava em curto-circuito a relação de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e principal fiador da reforma, com o presidente da República. E por bons motivos. Bolsonaro já havia deixado vazar que os esforços de Maia para facilitar a aprovação da reforma eram uma pressão da "velha política". E a difamação se dava num ambiente em que o próprio Bolsonaro, na prática, dava de ombros para a reforma. No fundo, ele teme a mudança. Sua popularidade já despencou. Sim, vai cair mais. É parte do jogo. É osso do ofício. Mas ele só quer o gozo dos radicais, não a permanente insatisfação dos democratas.

E então entrou em ação, mais uma vez, um dos grandes agentes da instabilidade democrática no país: Sérgio Moro. Foi à Câmara intimidar Maia; emitiu nota sugerindo que o presidente da Casa não considera urgente o combate à corrupção; apelou a Deus; gravou a versão em áudio da dita-cuja, que circula por aí freneticamente nos bolsões do bolsonarismo, em processo de franco esvaziamento. E o ministro, claro!, ganhou a adesão de Carlos Bolsonaro, considerado um boneco (um pouco mais articulado…) de ventríloquo do pai.

Felipe Martins, um olavete nomeado assessor do presidente, escreveu uma série de tuítes que, na prática, demonizam o presidente da Câmara e pregam o povo na rua contra a tal "velha política". Maia se declarou fora da articulação em favor da reforma, embora continue seu defensor. Bolsonaro disse que pretende reconquistá-lo como quem tenta manter uma namorada. É fim da linha.

E tudo isso se deu na semana em que veio a público a proposta de reforma da Previdência dos militares, que comete a sandice de misturar a questão previdenciária com um plano de reestruturação de carreira. E se fez o troço sem dialogar com ninguém. Como se a política não existisse. O dólar, os juros futuros e o risco subiram. A Bolsa caiu. Maia recomendou ao presidente que se dedique mais à reforma da Previdência e menos ao Twitter. Mas, assim, que graça haveria em governar? O gozo do reacionário está em ser reacionário, não em fazer política.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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