Se general Heleno fizer direito o seu trabalho, nem precisará atacar o meu
Reinaldo Azevedo
04/11/2019 07h38
Vejam este tuíte… decorado. Volto depois dele.
Pelo visto, virei a Globo do general Augusto Heleno, o chefe do Gabinete da Segurança Institucional, que deve andar com pouco serviço, intuo, dada a disponibilidade para tentar fazer lacração no Twitter.
Heleno voltou à carga, inventando até uma categoria nova de pensamento ou de ideologia —, que, claro, entendi ser "do mal": o "azevedismo". Pois é… Eu até gosto do "helenismo" — aquele outro, que remete à Antiguidade, mas não ao antiquado.
O general resolveu me atacar no Twitter porque defendi que o Congresso o convoque para se explicar sobre a sua fala a respeito da pregação golpista de Eduardo Bolsonaro. Em entrevista ao Estadão, afirmou o ministro, entre outras pérolas:
"Não ouvi ele falar isso. Se falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter (…). Eduardo estava sob forte emoção com esse negócio da TV Globo. Essas coisas, hoje, num regime democrático… é complicado. Tem de passar em um monte de lugares. Não é assim. O projeto do Moro, fundamental para conter crime, não passa. Fazem de tudo para não passar. O pessoal não quer, não quer nada que possa organizar o país. Não quer dizer que isso vai organizar o país. Mas isso aí não é assim, vou fazer e faz".
Já escrevi a respeito. O ministro me atacou no Twitter. Eu respondi. Também publiquei um post neste blog. Heleno ficou ainda mais zangado e se saiu com aquela maravilha que vai lá no alto.
AGORA ENTENDI
O GSI não é exatamente a área mais competente do governo. Agora entendo a razão. O general virou um caçador de fantasmas do século passado. Está lá para combater os muitos "ismos", entre eles, pasmem!, o "getulismo" e o "peronismo. A Argentina que se cuide.
E, ora vejam!, inventou o que nem eu ousei inaugurar: o "azevedismo".
Não sei o que é, mas dá para entender que ele não acha uma coisa boa, dadas as companhias, rsss.
São muitas as frentes de batalha. Vai ver é por isso que não conseguiu criar a tempo, por exemplo, um mecanismo eficiente que impeça um militar de usar um avião da Presidência para fazer tráfico de drogas, episódio que, até onde entendo, parece misturar "bandidagem", "incompetência" — quiçá "corrupção".
NÃO CONHECE
Ao misturar o "azevedismo" (criado por ele para designar o que penso) com "getulismo", "peronismo", "petismo" etc., evidencia ignorar o que escrevo e falo por aí. Ao relacionar isso tudo ao "socialismo da corrupção, da bandidagem, da incompetência", parece fazer um esforço para me associar à defesa de tais práticas.
É só expressão de fúria desenfreada, irrefletida, falastrona, coisa corriqueira nesse governo. O que o general quer que eu responda? Que eu me oponho ao "privatismo das milícias, das balas perdidas, dos infanticidas"?
INTIMIDAÇÃO
Dada a violência retórica, estamos diante de um esforço claro de intimidação da imprensa. Não sou o único alvo, como se sabe. E notem que não acusei o general de absolutamente nada. Cobrei e cobro que seja convocado pelo Congresso para se explicar.
Observem que o ministro diz ser uma "convocação inócua", sustentando que "parlamentares têm mais o que fazer". O ministro, como se nota, já decidiu em lugar de deputados e senadores. Confunde, fica claro, o Congresso com um quartel que estivesse sob o seu comando. Também é intimidação.
Essa decisão não é dele nem minha, mas de deputados e senadores.
Sugiro ao general que atue para combater os reais inimigos da segurança institucional no Brasil:
– o crime organizado na modalidade narcotráfico;
– o crime organizado na modalidade milícias;
– os milicianos que se tornam políticos;
– o tráfico de armas;
– a agressão sistemática aos direitos humanos dos humanos direitos e dos humanos tortos;
– as fronteiras desprotegidas do país;
– as milícias virtuais alimentadas com dinheiro público;
– a indústria de fake news também construída com dinheiro da viúva…
O getulismo é do século passado. O peronismo é um problema dos argentinos. O petismo, goste o ministro ou não, é parte da diversidade política do país. O azevedismo é só um delírio seu.
Os precedentes de governos, aqui e no mundo, que elegem a imprensa como a principal inimiga, general, são péssimos.
Faça o seu trabalho, e eu faço o meu.
O seu é garantir a segurança institucional e defender a Constituição.
O meu é cobrar que ministros que agridem valores da Constituição se expliquem no Congresso.
Reparou, general?
Se o senhor fizer direito o seu, nem precisará criticar o meu.
Abaixo, general, exibo o livro em que estão os fundamentos do"azevedismo". Recomendo a leitura.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.